Jornal da Mostra

24 de outubro de 2021

Histórias negras são protagonistas de filmes nesta Mostra; conheça mais sobre cada um desses longas-metragens

Juri da 45ª Mostra
Juri da 45ª Mostra

Nos últimos anos, diversas formas de violência e desigualdade raciais passaram a ser problematizadas no centro da esfera pública. Tudo isso se desdobrou em movimentos, debates e produções culturais sobre o tema em todo o mundo. A 45ª Mostra apresenta em sua programação alguns títulos que refletem estas questões, em filmes em que o protagonismo se volta para histórias e personagens negras e questões raciais; outros abrem nosso olhar para autores do continente africano.

Entre eles está Lingui, a produção mais recente de Mahamat-Saleh Haroun, em que uma mãe e uma filha lidam com uma gravidez em um país em que o aborto é condenado pela religião e pela lei; Saloum, rodado no Senegal pelo diretor congolês Jean Luc Herbulot, e que conta a história de um grupo de mercenários em fuga de um golpe de Estado no país; enquanto a diretora Jena Cato Bass fala da relação entre o trabalho doméstico e a escravidão em Boa Senhora, e o cineasta Jide Tom Akinleminu, criado entre a Nigéria e a Dinamarca, retrata tensões de gênero, cultura, raça e também dos afetos de sua própria família, no documentário Quando uma Fazenda se Incendeia.

No continente americano, as diretoras Emily Kunstler e Sarah Kunstler esmiúçam as marcas do racismo na história dos EUA, no documentário Who We Are – A Chronicle of Racism in America. Já em Ailey, a documentarista Jamila Wignot rememora a trajetória do bailarino e coreógrafo afro-americano Alvin Ailey. Vem dos Estados Unidos também o documentário Summer of Soul (...ou, Quando a Revolução Não Pôde Ser Televisionada), a estreia na direção de longas do rapper e produtor musical Questlove, membro do grupo musical The Roots. O filme é calcado nos registros de arquivo inéditos do Harlem Cultural Festival, evento dedicado à música afro-americana que aconteceu em Nova York, no mesmo verão em que ocorria o Festival de Woodstock.

A produção dominicana Bantú Mama coloca sua protagonista francesa de origem africana de frente às desiguladades e violências que os jovens enfrentam em Santo Domingo, capital da República Dominicana. Já Medo conta a história de Svetla, uma mulher búlgara que vive numa vila que serve de passagem para muitos imigrantes e refugiados. Quando ela encontra um imigrante africano nas redondezas, precisa se rebelar contra toda a comunidade.

No Brasil, o olhar apurado para as nossas intricadas relações raciais do cineasta Joel Zito Araújo pode ser conferido em O Pai da Rita, um filme sobre a amizade e a rivalidade entre dois homens negros, ambientado no bairro do Bixiga - historicamente ocupado pela população negra da centro de São Paulo, enquanto Mundo Novo nos leva ao Rio de Janeiro, onde as desigualdades estão cravadas na geografia da cidade, e invadem a história de Conceição e Presto, um casal inter-racial que precisa aprovar um financiamento de imóvel no bairro do Leblon.