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Editorial | Sesc

Espaços físicos e imaginários 

Uma possível história do cinema se desenrola em paralelo aos gêneros, formatos e aparatos técnicos que essa linguagem artística abrange. Tal crônica pode ser observada também no conjunto de ambientes em que os diversos públicos entraram em contato com as obras cinematográficas ao longo do tempo. 

No final do século 19, os primeiros cinematógrafos eram dispostos em tendas improvisadas e integravam as feiras populares. Em tais contextos, que contavam com números de bonecos, malabarismos, encenações teatrais, dentre outras atrações, as primeiras imagens técnicas em movimento eram testemunhadas sob a égide da curiosidade e do maravilhamento causado pela ilusão da vida reproduzida visualmente. Após alguns anos, às imagens, somaram-se trilhas sonoras interpretadas ao vivo. Essa conjuntura demandou que fossem construídos auditórios similares às salas de concerto, para comportar tanto quem assistia aos filmes quanto as dezenas de musicistas que viabilizavam aquela experiência. 

Mais adiante, com a popularização das tecnologias de reprodução sonora, os filmes falados já eram exibidos em diversas localidades do mundo e produziram aquilo que chamamos de “cinemas de rua”; mais tarde, foram articulados em complexos arquitetônicos cada vez mais arrojados, com diversas salas de exibição simultâneas, não raro inseridas em conjuntos comerciais, dotadas de tecnologias visuais e sonoras tridimensionais, dentre outros implementos técnicos. 

Paralelamente às salas de cinema, os espaços domésticos também desempenham um papel fundamental na divulgação da cultura cinematográfica. A televisão e, mais tarde, o advento do VHS e das tecnologias digitais, permitiram que os públicos acessassem as produções audiovisuais em suas casas. O contexto atual, que inclui plataformas de streaming, é um desdobramento dessa experiência e tem se demonstrado de suma importância para a manutenção da cadeia produtiva do audiovisual sob as contingências da pandemia de Covid-19, que impôs limites ao acesso às salas de projeção. 

Em sua 45ª edição, a Mostra Internacional de Cinema em São Paulo reforça a difusão de filmografias mundiais aos públicos brasileiros no contexto de cinema expandido. Para o Sesc, parceiro da Mostra desde sua 1ª edição, a ampliação do acesso às obras audiovisuais constitui uma ação fundamental no sentido de incluir a diversidade de narrativas e pessoas —sejam elas espectadoras, cineastas e demais profissionais do setor audiovisual— no espaço discursivo das artes, contexto que, ao projetar simbolicamente a realidade, aprofunda e complexifica a experiência humana em sua pluralidade. 

Danilo Santos de Miranda
Diretor Regional do Sesc São Paulo