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Noite Americana (1973)

Sobre o filme

O mês de outubro e a 28a Mostra Internacional de Cinema coincidem com os 20 anos da morte do genial François Truffaut. Há 20 anos, a Mostra recebia outro gênio do cinema, Nestor Almendros, o documentarista e diretor de fotografia inclusive de vários filmes de Truffaut. Almendros chegava indignado com um jornal do Rio na mão, pois naquele tempo os vôos internacionais invariavelmente terminavam no Rio de Janeiro. O recorte que trazia dizia que Truffaut estava confirmado como presidente do júri do extinto Festrio, anunciado para novembro seguinte. Almendros estava inconformado com a mentira, pois estava vindo de Paris onde havia se despedido de Truffaut no hospital, em coma, com tumor cerebral. Poucos dias depois, no dia 21 de outubro, Truffaut morreria. Nestor Almendros esperou em vão por esse desmentido. Tive um envolvimento pessoal com François Truffaut, em 1973, graças a este maravilhoso Noite Americana. Generoso e atencioso, Truffaut abriu a sua agenda apertada no Festival de Cannes, para conversarmos calmamente, sentados informalmente nas escadas do segundo andar do Hotel Carlton. Devo a momentos mágicos como esses a força da criação da Mostra, que tanto nos aproximou como simples espectadores das inquietudes e da partilha criativa de tantos gênios do cinema como François Truffaut. (Leon Cakoff) Neste que foi um de seu filmes mais apreciados, François Truffaut (1932-1984), expressou com cristalina clareza e doçura – suas marcas registradas – seu intenso amor pelo cinema. Seu objeto são os “bichos de cinema”, pessoas que, como ele na vida real, não podiam viver longe de um set de filmagem. O próprio Truffaut interpreta um cineasta, Ferrand, iniciando a produção de um filme chamado “Conheça Pamela”, que está longe de pretender ser um filme de arte. Isso, para Ferrand, não é necessariamente uma fonte de decepção. Acelera sua adrenalina o simples fato de estar ali, atrás das câmeras, sob os refletores, lidando com a agenda das filmagens, os efeitos especiais, os objetos de cena, a química entre os atores, todas as pequenas coisas que fazem um filme existir. No elenco, reconhecem-se os tipos comuns a todas as filmagens, personagens que Truffaut compôs certamente recorrendo à sua própria experiência: a estrela com problemas emocionais que espera ter superado todos agora que se casou com seu médico, um homem bem mais velho; o protagonista que, ao aproximar-se da velhice, assume sua homossexualidade; o jovem ator cujas paixões na vida real tiram-lhe a tranqüilidade para trabalhar. E uma multidão de coadjuvantes, todos eles fundamentais ao andamento do processo um pouco mágico, um pouco louco que materializa qualquer filme.

Título original: La Nuit Américaine

Ano: 1973

Duração: 115 minutos

País: França

Cor: Colorido e preto e branco

Direção: FRANÇOIS TRUFFAUT

Roteiro: Truffaut, Suzanne Schiffman, Jean-Louis Richard

Fotografia: Pierre William Glenn

Elenco: Jacqueline Bisset, Valentina Cortese, Alexandra Stewart, Jean-Pierre Aumont, Jean-Pierre Léaud, François Truffaut, Nathalie Baye

Produtor: Marcel Berbert